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domingo, 7 de junho de 2015



A CAVALARIA


1974. Uma agradável manhã de outono.
A cerração cobre o campo que se estende em frente à nossa casa, cobrindo o goiabal com aquele doce sabor do sereno da manhã.
Abro a janela do quarto e surpreso, vejo que o “Posto de Desinfecção de Veículos” está tomado de intensa movimentação...
Chegam caminhões verde-oliva, do tipo “gaiolas”, carregados de pomposos cavalos e um grande número de soldados se perfilam sobre a plataforma do posto, enquanto os cavalos são encaminhados a uma grande e improvisada baia às margens do córrego.
Correndo, fui chamar meu irmão para também presenciar o fato inusitado e juntos fomos para a cerca que divisava o grande pátio. Fomos ver de perto o “espetáculo”!!
Soldados em forma, marchando ao ritmo de uma caixa e cornetas tocando marchas militares, empunhando fuzis com baionetas caladas... Aquilo era extraordinário !!!
Nossa casa não tinha água encanada, buscávamos água em baldes, numa torneira que ficava justamente onde a tropa se encontrava aquartelada.
Só havia aquela torneira e ali a tropa se servia de água para o acampamento, o que nos obrigava a disputá-la com aqueles garbosos soldados, o que para nós era motivo de grande contentamento.
Ganhávamos barras de deliciosas marmeladas e além disso tínhamos ajuda para carregar os baldes, o que para nós era muito bom !
De noite dormíamos com as janelas abertas, pois havia sentinelas por toda parte e acordávamos ao som do clarim tocando “alvorada”.
Os exercícios militares, com simulação de combates, a cavalhada tomando água nas canaletas represadas que se transformaram em improvisados bebedouros, as marchas militares, as marmeladas, e todo aquele clima mágico, nos encantaram por aproximadamente duas semanas.
Um dia, para nossa tristeza, não ouvimos o toque de alvorada ao amanhecer. Levantamos depressa e decepcionados pudemos constatar que o Grupamento de Cavalaria do Exército não estava mais acampado no posto. Havia partido durante a madrugada...
Era o fim da nossa fantasia.
Tristes, ainda fomos ver de perto os vestígios das barracas recém-desmontadas, as pegadas dos cavalos e para nossa felicidade, encontramos inúmeras cápsulas deflagradas oriundas dos exercícios de tiros de festim. Guardamos estas relíquias como lembrança daqueles dias memoráveis .Vim a saber, mais tarde, o nome do comandante daquele grupamento que ali acampara. Tratava-se do Cel. João Batista de Figueiredo, que depois foi nosso Presidente da República.
                                                                        Antônio Carlos Arruda

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